Tragédia no Rio Grande do Sul provoca alta nos preços do produto e governo busca soluções para evitar desabastecimento
O preço do arroz disparou nas últimas semanas, refletindo os efeitos da tragédia no Rio Grande do Sul. O estado é responsável por 70% da produção nacional. Embora os produtores afirmem que a maior parte da colheita já tinha acontecido antes da enchente, o quilo do arroz acabou subindo. As enchentes causaram a morte de pelo menos 160 pessoas e deixaram mais de 500 mil desabrigados.
Em Belo Horizonte, Minas Gerais, uma pesquisa realizada pelo site Mercado Mineiro revelou um aumento de 20% no preço do arroz em apenas três semanas. Em São Paulo, o Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor) intensificou a fiscalização para combater a especulação e garantir que o aumento de preços seja justificado.
Aumento dos preços
O levantamento do Mercado Mineiro, divulgado em 20 de maio, mostrou que o preço do pacote de arroz de 5kg subiu 20%, de R$19,12 para R$23,21 desde o final de abril. Em São Paulo, o Procon registrou que o preço de 1kg de arroz passou de R$7,51 para R$8,38, enquanto o arroz integral subiu de R$7,92 para R$8,44. Em nota, o Procon-SP justificou que, diante da gravidade da situação no RS, é aceitável que os fornecedores limitem a quantidade de produto disponível para venda, a fim de evitar especulação e garantir o atendimento ao maior número de consumidores.
Wallace Borges, economista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e especialista em políticas de combate à fome, acredita que não é legítimo que o preço do arroz dispare e disse que alguns empresários parecem estar se aproveitando da situação para aumentar os lucros. “O que parece estar acontecendo em BH são empresários tentando lucrar com a tragédia durante esse intervalo entre a implementação de uma política pública de segurança alimentar e o momento em que a política de fato entra em vigor”, afirma.
No Rio de Janeiro, Eduardo Silva, morador da Mangueira, notou o impacto do aumento do preço do arroz nas quentinhas que compra diariamente. Jonathan Gonçalves, dono de um negócio de quentinhas, relata que, embora tenha optado por não repassar o aumento ao consumidor, sua margem de lucro foi significativamente reduzida. “O aumento do arroz refletiu na nossa margem de lucro, porque não aumentamos o preço da quentinha para não perdermos clientes. Eles continuam comprando com a mesma frequência, embora a gente ganhe menos”, lamenta o comerciante.
Medidas práticas
O governo federal anunicou medidas para solucionar o problema. Em reunião com a Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), decidiu suspender por mais de 100 dias o vencimento de parcelas de operações de crédito rural. Desta maneira os produtores podem ter mais tranquilidade em meio a reconstrução do estado.
O governo iniciou um leilão de compra do grão entre os países do Mercosul, mas, diante da expectativa de aumento de preços por parte desses países, decidiu zerar o imposto de importação para países fora do bloco econômico. "Nós demos uma demonstração ao Mercosul de que, se for querer especular, nós buscamos de outro lugar", disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ao G1. Além disso, graças à Medida Provisória nº 1.217/2024, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) foi autorizada a importar até um milhão de toneladas de arroz durante o ano de 2024.
Para Borges, as medidas do governo são positivas, ressaltando que elas garantem a segurança alimentar e minimizam o impacto negativo na balança de pagamentos. Borges sugere ainda que uma solução para cidades onde o preço do arroz aumentou, como Belo Horizonte, seria facilitar a importação do grão. “Uma opção que o governo tem de baixar os preços do arroz é facilitar que arroz importado chegue até BH, seria um trabalho de articulação política do ministério da agricultura para esse fim”, conclui.
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