Nathana Venancio e Lucas Machado contam suas trajetórias e avaliam impactos das Olimpíadas para o esporte
O breaking é uma das novidades da Paris 2024. A modalidade será disputada por 32 atletas em busca da medalha de ouro, sendo 16 homens e 16 mulheres, conhecidos por “b-boys” e “b-girls”. O Brasil ainda não garantiu a classificação para as Olimpíadas, e o único representante que segue na disputa por uma vaga é o paraense Leony Pinheiro.
Mesmo para os atletas que não irão à competição, a inclusão do esporte nos Jogos Olímpicos é uma oportunidade para valorizar a categoria. De acordo com a atleta da seleção brasileira Nathana Venancio, de Uberlândia, Minas Gerais, por muito tempo a prática foi tratada com discriminação: “Falavam que é coisa de ‘quem não tem o que fazer’, agora as pessoas vão entender realmente o que é o breaking”.
O estilo de dança urbana se iniciou nos Estados Unidos, ao longo da década de 1970. Com origem na cultura “hip hop”, foi oficializado como esporte pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2020. A partir desse momento, a b-girl conta que a modalidade ganhou destaque e apoio de grandes marcas. Para ela, a expectativa é que o cenário evolua ainda mais depois das Olimpíadas.
Atleta, Nathana também é jurada em competições nacionais e internacionais. Em 2023, foi uma das representantes do Brasil na estreia do breaking nos Jogos Pan-Americano, em Santiago, no Chile. Segundo a mineira, foi uma experiência única, que ela irá levar para o resto de sua vida.
Outro nome que se destaca na cena do breaking brasileiro é Lucas Machado, mais conhecido como “Perninha”. Ele e Nathana fazem parte da primeira Comissão de Atletas de Breaking do Brasil. O b-boy, além das competições, se dedica a shows, palestras motivacionais e workshops.
Nascido em João Pessoa, na Paraíba, o atleta recebeu o apelido por causa de uma condição de nascença: ele é portador de uma deficiência chamada Deficiência Femoral Focal Proximal (DFFP), que afeta o desenvolvimento do fêmur. Por ter a perna esquerda mais curta, o pé fica na altura do joelho.
Desde pequeno, costumava procurar atividades que o fizessem se superar fisicamente. Com isso, conheceu o breaking. No entanto, nem todos queriam apoiá-lo: “Muitas pessoas chegavam para mim nos treinos e diziam coisas como - ‘Você está tentando ainda?’, ou então, ‘Vai fazer outra coisa que é mais fácil’. Mas isso nunca me fez desistir. Pelo contrário. Queria mostrar que ia fazer dar certo”, diz Lucas. O b-boy treina e compete sem o uso de prótese.
A realidade do breaking no Brasil
De acordo com Lucas, o breaking está muito avançado no país em comparação ao início de sua trajetória, há cerca de 12 anos: “Quando precisei sair de casa para seguir em busca do meu sonho, eu viajava e dormia na rua. Fazia show em praça e em sinal, até minha carreira ser reconhecida”, relembra. Hoje, ele acredita que o Brasil ainda precisa evoluir no planejamento e na administração do esporte.
Nathana vive uma experiência prática desse problema. Para ela, o país precisa investir em centros de treinamento e dar maior atenção aos atletas do breaking: “Aqui, em Uberlândia, não tem um lugar específico para treinar. A Secretaria do Esporte nem procurou a gente, mesmo sabendo que têm atletas na cidade. Nem vieram conversar. Já entrei em contato e falaram que tinham dificuldade com horários porque a maioria já estavam ocupados com outras modalidades”.
Em resposta ao Rampas, o Ministério do Esporte informou que “por ser uma modalidade nova de esporte olímpico, nenhuma demanda referente à prática do breaking foi registrada”.
A b-girl ressalta que, por ser uma atleta da Seleção Brasileira, consegue ter o apoio de patrocínios e do Bolsa Atleta. O que não é tão simples para quem ainda está em início de carreira. O Bolsa Atleta, por exemplo, principal programa de incentivo do governo brasileiro, é destinado a “atletas de alto desempenho que obtêm bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade”. Para Nathana, isso dificulta a vida dos atletas que irão precisar se dedicar ao esporte e ainda ter um outro trabalho para se sustentar.
Em busca de oferecer apoio aos novos b-boys e b-girls, Lucas planeja consolidar, em conjunto com a Federação de Breaking da Paraíba, um trabalho de base com os jovens do estado, além de abrir um centro de planejamento na região: “Quero abrir um centro de planejamento na região, porque vai ser um tipo de auxílio que eu não tive quando comecei”.
O breaking nas Olimpíadas 2024
O breaking terá duas datas de competição em Paris, nos dias 9 e 10 de agosto. Os atletas se enfrentam em batalha solo (um contra o outro) e fazem seus movimentos improvisando ao ritmo das músicas. As notas dos jurados são baseadas nos seguintes critérios: criatividade, personalidade, técnica, variedade, performance e musicalidade.
Nathana, que já atuou como jurada em competições, explica que o objetivo é conseguir pontuar no máximo de critérios possíveis. Na questão da musicalidade, por exemplo, é avaliada também a “alma do atleta”. Ou seja, como ela conta e expressa alguma coisa através da dança e da música. Já na parte técnica, o jurado analisa a qualidade de execução dos movimentos e o seu rendimento físico (se está cansando rápido durante a batalha). Se um b-boy ou uma b-girl cair no chão na disputa, não significa que irá perder a batalha ou que está desclassificado.
A atleta ainda chama a atenção para uma questão de “mau comportamento”. Segundo Nathana, se um competidor fizer um gesto obsceno ou proferir um xingamento ao adversário, ele irá perder pontos e poderá ser eliminado.
O breaking não foi escolhido para integrar o programa olímpico de Los Angeles 2028, mas deve retornar nos Jogos de Brisbane, na Austrália, em 2032.
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