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Foto do escritorLetícia Santana

Cores e pincéis para manter a mente ativa em qualquer idade

Num Brasil em que a população idosa cresce, atividades voltadas para público 60+ conquistam adeptos



Elisabete Pacó, 69, com seus quadros: “Eu gosto de frequentar o atelier, porque a gente se incentiva, damos opiniões um no quadro do outro”. - (Foto: Letícia Santana)

Aos 71 anos, Eliane Almeida tem um compromisso ao qual comparece religiosamente: as aulas de pintura. Desde que se aposentou, ela queria uma atividade que a ajudasse a sair de casa, driblar a solidão e interagir com pessoas de sua idade. Aí descobriu a pintura. “A gente quando se aposenta fica um pouco mais em casa, fica só e aqui no ateliê é um lugar que você interage mais, fica à vontade com pessoas da sua idade”, conta.


Eliane descobriu os pincéis num curso de pintura em tecido oferecido na sua igreja. Mas desistiu e acabou se voltando para a pintura em tela. Já pinta há 19 anos e é uma das alunas do ateliê do professor Henrique Sant’anna, em Cascadura, zona norte do Rio. A atividade é algo que a distrai e mantém seu cérebro ativo. “Eu recomendo que as pessoas, para evitar ficar em casa ou então com celular na mão, procurem um espaço como esse. Pra nossa idade é o ideal, porque os filhos estão em vida ativa, os netos também, e a gente fica recolhida num canto, fica até vazia nossa vida. Aqui com a pintura não, preenche a nossa vida.”



Eliane, de 71 anos, aluna de pintura, e suas obras - Foto: Letícia Santana

O Brasil tem hoje mais de 22 milhões de pessoas acima dos 65 anos - é mais de 10,9% da população total do país, pelos dados do Censo 2022 realizado pelo IBGE. Até 2070, isso deve subir para 37,8% da população. Os números mostram que só aumenta a demanda por atividades que mantenham esse grupo ativo e convivendo em sociedade.


Para o professor Henrique Sant’anna, 66, a pintura é companheira de toda uma vida. Ele faz pinturas a óleo desde os 13, mas antes já explorava o mundo das artes plásticas com tintas guache, acrílica e nanquim. Há 20 anos dá aulas de pintura em seu ateliê. A faixa etária média dos seus alunos varia entre 55 a 80 anos. Além do ensino das técnicas da pintura, o professor ressalta a importância das aulas para os alunos. “A saúde mental melhora muito! Quantos alunos chegam aqui meio aborrecidos, e daqui a pouco já estão rindo e vão bem pra casa… O idoso, além de aprender, também quer para ele esse lazer de estar em convívio com as pessoas.” O ateliê recebe turmas das terças às sextas-feiras, todas as semanas, há 20 anos. 


Depois de todo esse tempo, Henrique percebe a importância que a atividade tem para seus estudantes. “Não só nas artes plásticas, mas qualquer outra coisa que mantenha o idoso ativo. É muito importante pro idoso estar em contato com outras pessoas, mesmo com as suas limitações. Faz um bem danado! No caso da pintura, tudo que você está sentindo está passando para a tela. Cada pincelada que você dá deixa impresso seu sentimento ali no quadro.”



Henrique Sant’anna em seu ateliê - Foto: Letícia Santana

Benefícios para a saúde 

A arte pode ser usada como prevenção e terapia para doenças que afetam a população idosa, como Parkinson e Alzheimer, trazendo benefícios para saúde física e mental. De acordo com o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e geriatra Carlos Paixão, atividades como pintura e desenho são boas atividades de lazer, hobby e cognição. Podem ser usadas para estimular atividades cerebrais, auxiliar tratamentos comportamentais e atenuar quadros de depressão ou agitação em casos de síndromes demenciais.


A psicóloga Ana Claudia Laviano, especialista em neuropsicologia e neurociências, enfatizou também o aspecto físico: “Pintar envolve o uso das mãos de maneira detalhada, o que ajuda a manter ou melhorar a coordenação motora fina, essencial para realizar atividades diárias. Também auxilia na manutenção da flexibilidade e da força das mãos, ajudando a prevenir ou minimizar os efeitos da artrite e outros problemas relacionados à mobilidade”.


Ana Claudia ressalta também os efeitos mentais como a estimulação cognitiva. “A pintura estimula áreas do cérebro responsáveis pela memória e concentração. O processo criativo envolve a lembrança de imagens, cores e formas, o que pode ajudar a manter a mente ativa, retardando o declínio cognitivo e atuando como um fator protetor contra demências como o Alzheimer.”


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