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Foto do escritorMiguel de Paula

Descarte errado de remédios ameaça a saúde humana e o meio ambiente

Atualizado: 6 de jun.

Medicamentos descartados de modo inadequado contaminam  sistema de esgoto, solo e lençóis freáticos


Em 2014 e 2015, a Controladoria Geral da União (CGU) contabilizou mais de 16 milhões de reais em medicamentos despejados a céu aberto. Crédito: Prefeitura de Aquidauana/Divulgação

Muita gente não sabe, mas jogar no lixo aquele remédio que você não vai mais tomar ou que já está vencido traz riscos graves à saúde e ao meio ambiente. Um medicamento descartado de modo incorreto pode poluir o solo e os lençóis freáticos. É o que alerta a doutora em processos químicos e bioquímicos Mychelle Alves, especialista em saúde pública e do Departamento de Química da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).


Segundo Alves, é comum que a população guarde remédios por tempo indeterminado e jogue fora irregularmente após o vencimento. E o destino mais comum é despejar tudo no vaso sanitário. Ao chegar no sistema de esgoto, os produtos químicos presentes no medicamento podem se tornar tóxicos ao entrarem em contato com outros componentes biológicos.



Mychelle Alves, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). Crédito: Acervo pessoal

A pesquisadora lembra ainda que o sistema de esgoto é cíclico, ou seja, após ser tratada, a água volta às casas das pessoas. Mas, graças a remédios descartados de forma inadequada na rede de esgoto, uma substância química pode se transformar em algo tóxico. 


O esgoto contaminado também pode poluir os mares. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informação Sanitária (SNIS), a quantidade de rejeitos sanitários lançados no oceano equivale a cerca de 12,5 bilhões de litros (mais de cinco mil piscinas olímpicas cheias) - e uma parcela significativa destes contaminantes é de resíduos medicinais. Além disso, em 2014 e 2015, a Controladoria Geral da União (CGU) contabilizou mais de 16 milhões de reais em medicamentos despejados a céu aberto.


Estudo da Fiocruz publicado em novembro de 2022 mostra que foram encontrados sete tipos de antibióticos nas bacias hidrográficas de Guandu e São João, no Rio de Janeiro. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz, essas estatísticas são graves, porque essas substâncias prejudicam a vida marinha e interferem na pureza dos mares. Muitos animais aquáticos são atingidos por esses resíduos medicinais em degradação.


“Alguns desses fármacos são à base de metais e outros contêm hormônios. Esses componentes podem afetar diretamente a cadeia alimentar, ocasionando uma bioacumulação de metais em peixes. Além disso, a presença dos hormônios prejudica o sistema reprodutor destes animais ou até mesmo acarreta na morte destas espécies”, explica a pesquisadora.



A maior concentração na bacia do Guandu foi do antibiótico “claritromicina”, usado para tratar infecções dermatológicas e pulmonares. Crédito: Scientific Reports

Outra prática comum é jogar no lixo remédios vencidos. Neste cenário, a droga é encaminhada aos lixões e pode se transformar em um agente toxicológico, contaminando o solo e os lençóis freáticos.


“Os fármacos, em contato com as bactérias presentes no ar e em outros dejetos, sofrem uma alteração no seu princípio ativo e com isso geram uma substância, muitas das vezes, tóxica. Isso é prejudicial tanto para os esgotos da cidade, por conta do descarte por meio do vaso sanitário, quanto para os lixões, em virtude do descarte pelo lixo”, comentou a pesquisadora da Fiocruz.



Descarte de remédios no solo contamina o lençol freático e pode deixar a terra infértil. Crédito: Rádio Senado/Divulgação

O que deve ser feito


Segundo a pesquisadora da Fiocruz, no Rio de Janeiro não há políticas públicas para evitar o descarte irregular de remédios. Ela lembra, porém, que a própria Fiocruz tem uma rede de coleta de medicamentos: “Precisamos ter políticas públicas que obriguem todas as drogarias e as indústrias farmacêuticas a serem responsabilizadas por esse medicamento que está sendo descartado. Aqui na Fiocruz temos um ponto de coleta”, afirmou. 


O município do Rio de Janeiro conta com 333 pontos de descarte de medicamentos. Você pode consultar o mais próximo da sua casa clicando aqui. Para mais informações sobre o descarte responsável e consciente de medicamentos, acesse os sites da Fiocruz e também do Ministério da Saúde.



Ponto de coleta localizado em uma farmácia. Crédito: Ministério da Saúde/Divulgação


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