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Foto do escritorCarlos Cavalcante

Locadoras resistem à era dos streamings

Atualizado: 5 de jul.

Localizadas em bairros da Zona Sul do Rio, a Storm Vídeo e a Cavideo se reinventam para manter vivo o empréstimo de filmes


José Carlos, proprietário da Storm Vídeo Locadora e Sebo. Foto: Carlos Cavalcante

Quem passeia pelas ruas de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, talvez não espere encontrar na Galeria Castelinho uma locadora de filmes — local nostálgico para muitos. Ao entrar pelas portas da loja J, é  possível ver inúmeras prateleiras lotadas de DVDs e livros, muitos acomodados até no chão, pela falta de espaço. No fundo da loja, um senhor atende clientes ou observa quem entra. Embora isso fosse comum há alguns anos, as locadoras perdem espaço desde o início da popularização dos streamings no Brasil, que possibilitam assistir filmes e séries sem precisar de mídias físicas.


Apesar de dados como os divulgados pela Pró-Música Brasil, entidade privada que representa as principais gravadoras do mercado fonográfico do país, apontarem que o comércio de DVDs contou com um faturamento de 374 mil reais em 2022 — uma queda de 87% em relação a 2021, quando o faturamento foi de aproximadamente 3 milhões —, esses espaços resistem e se reinventam para continuar existindo. A pesquisa “Streaming 2022”, realizada pela Hibou, uma empresa especializada em pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, mostra uma queda no interesse por mídias físicas de vídeo, relatando que 71% dos entrevistados assina ou já assinou algum serviço de streaming de filmes e séries.


José Carlos Alves Menezes, mais conhecido como Zé Carlos, 62, é proprietário da Storm Vídeo Locadora e Sebo, localizada na Rua Gomes Carneiro, em Ipanema. Zé Carlos conta que o estabelecimento era dos irmãos e que ele assumiu em 1992, quando a locadora completava 5 anos. “Caí de paraquedas e estou aqui há praticamente 31 anos. Gostei, foi uma experiência nova, nem um pouco programada. Não tinha feito curso de cinema, não entendia. Era uma pessoa que gostava de cinema”, disse Zé Carlos.


A chegada da Netflix no Brasil com a proposta de oferecer um extenso catálogo de filmes por streaming pelo valor de R$ 15, em setembro de 2011, agravou ainda mais a situação das locadoras, que já sofriam com o aumento da pirataria na internet. Embora os números mostrem um maior interesse dos brasileiros por assistir filmes online, existem aqueles que tentam manter velhos hábitos vivos.


A Storm Vídeo é conhecida por muitos moradores da Zona Sul do Rio, alguns clientes de longa data e outros mais recentes. Timothy James Young, 70, aposentado e morador do Flamengo, conhece a locadora há 15 anos, mas só começou a frequentá-la ativamente há dois: “Zé Carlos é muito conhecido porque tem uma variedade de filmes que eu não encontro em outro lugar. Aqui é a melhor fonte para achar filmes dos anos 40, 50 e 60 em DVD”.


Zé Carlos fala que não foi muito afetado quando a Blockbuster — considerada a maior rede de locadoras de filmes e videogames no mundo no começo dos anos 2000 — chegou ao Brasil, em 1995, mas que as coisas mudaram com o começo dos streamings. Ao ver os outros estabelecimentos de aluguel de filmes fechando as portas, ele confessou que se imaginava com o mesmo destino.


Reinvenção e parcerias


Outro que mantém sua locadora de filmes com as portas abertas é o cineasta e produtor Cavi Borges. Localizada atualmente na Rua das Laranjeiras, no bairro Laranjeiras, o local foi idealizado inicialmente para oferecer filmes de luta para aluguel. A ideia veio após Cavi, que é ex-judoca, se machucar e não poder competir nas Olimpíadas de 1996. Ao perceber que a iniciativa não daria certo, os planos mudaram. “Antes de inaugurar, focamos nos filmes de arte, e a partir daí, comecei a pesquisar e aprender um pouco mais sobre cinema. Foi um trauma do judô que me levou a abrir a locadora”, disse Cavi.


Cavideo, locadora e espaço cultural em Laranjeiras. Foto: Carlos Cavalcante

Ao perceber que a Cavideo não estava dando o lucro necessário como locadora, Cavi conseguiu fechar uma parceria com a Rio Filmes, que cedeu um local para abrigar o acervo, e em troca, ele disponibilizaria os filmes para acesso gratuito. Com isso, o antigo local de aluguel de filmes se tornou um espaço cultural, e quem quiser pode pegar emprestado qualquer DVD gratuitamente, além de livros. O espaço também é aberto para conversas sobre cinema, arte e conta com eventuais exposições. Isso faz com que a Cavideo permaneça funcionando. O lucro que a empresa recebe vem do seu trabalho como produtora cultural e distribuidora. O cineasta afirma que recebe, em média, 30 visitantes por dia, que buscam filmes e livros raros do acervo, como pesquisadores e estudantes. 


A oferta de filmes raros é algo que os dois locais têm em comum, por isso várias pessoas recorrem a esses espaços. Timothy conta que a dificuldade de achar essas produções em serviços de streaming é o que o motiva a alugar filmes com a Storm Vídeo: “Para mim, a maioria de filmes que gosto, que são dos anos 40, 50, principalmente 60, está em DVD. Não existe no streaming”.


Ao perceber a diminuição no interesse por locar filmes, Zé Carlos decidiu transformar metade da locadora em um sebo livros, além de ter DVDs para venda. O aluguel das mídias possui o preço fixo de R$ 7, enquanto a venda de filmes varia entre R$ 7 e R$ 25. O valor dos livros é baseado no site Estante Virtual.


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