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Foto do escritorHugo Lage

No Palestino, futebol rima com luta política

Atualizado: 10 de jun.

Equipe chilena criada por imigrantes se engaja na defesa pelo reconhecimento da Palestina 


Bandeira da Palestina exposta em jogo do time chileno - Foto: Divulgação/C.D. Palestino

Mais que uma equipe, todo um povo. É assim que o Club Deportivo Palestino se autodefine em suas redes sociais. Fundado em 1920 por imigrantes palestinos que foram para o Chile, o time tem orgulho de suas raízes e demonstra apoio permanente à luta pelo reconhecimento da Palestina como Estado. 


O Palestino disputa a Copa Libertadores da América deste ano e venceu o Flamengo no dia 7 de maio por 1 a 0. O clube ainda sonha com a classificação para as oitavas de final. Resta apenas um jogo contra o Bolívar, que será disputado na próxima terça-feira (28), às 21h, em La Paz, na Bolívia. O Rampas conta aqui um pouco mais sobre a história do clube que faz da luta política parte de sua história.


Segundo a  assessoria do Palestino, a defesa da causa é uma linha institucional das diretorias do clube. Nas redes sociais do time, que também é conhecido como “Tino", são comuns postagens sobre a luta pela libertação da Palestina e os refugiados. Em 26 de abril deste ano, o Instagram do Palestino publicou um vídeo no qual a presidente da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente do Comitê Espanhol, Raquel Marti, recebeu uma camisa oficial da equipe. Pouco antes, no dia 21 de abril, a equipe levou para a partida contra a Universidad de Chile uma faixa com os dizeres “Parem o genocídio em Gaza”, em espanhol, inglês e árabe.


Além dos trabalhos nas redes sociais, o clube mantém uma rede direta de doações para Gaza, fazendo contato constante com órgãos governamentais e associações civis no local. O clube mantém escolinhas de futebol na Palestina, porém, as atividades estão interrompidas por causa da situação atual na região.


Desde o dia 7 de outubro, o grupo extremista palestino Hamas e o governo israelense estão em conflito. Após ações iniciais do grupo islâmico, que atacou uma rave próxima de Réïm, comunidade no deserto de Néguev, Israel segue bombardeando as regiões da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Estes comportamentos geraram deslocamentos em massa por parte dos palestinos em ambos os locais, o que causou uma crise humanitária e acusações de genocídio contra o governo israelense de Benjamin Netanyahu, atual primeiro-ministro do país. 


Relação entre torcedores, atletas e a Palestina


Esse apoio à causa palestina não é algo exclusivo da diretoria, já que jogadores e torcedores têm o costume de usar o Keffiyeh, um lenço tradicional e comum entre palestinos. Um outro exemplo da forte ligação é a presença de bandeiras da Palestina, em jogos dentro e fora de casa.


Dois torcedores do “Tino”, o mais jovem utilizando o tradicional Keffiyeh - Foto: Divulgação/C.D. Palestino

O Chile é o país de maior população palestina fora do Oriente Médio. Segundo estimativas de acadêmicos e da comunidade palestina, existem entre 350 e 500 mil palestinos ou descendentes no local. Alguns deles torcem para o Palestino, como Moris Rabi. Morador de Santiago, o administrador contábil de 49 anos se define como torcedor antes mesmo de nascer. Seu avô veio da Palestina em 1914, e Moris admite que, por vezes, sente que a Palestina é a sua primeira pátria, não o Chile. 


Ativo na luta da comunidade palestina, Rabi enxerga com bons olhos a postura do clube, dos jogadores e dos outros torcedores. Ele menciona que os atletas comemoram os gols com gestos em defesa da Palestina e demonstram apoio com mensagens na entrada do gramado. No dia 25 de abril deste ano, o jogador Felipe Chamorro celebrou um gol fazendo o símbolo de “V” com as mãos. Foi uma referência a um personagem tradicional das tiras jornalísticas da Palestina, o Handala. O aceno foi uma alusão à luta pela vitória do povo palestino.


Felipe Chamorro, jogador do Palestino, comemora referenciando o personagem Handal - Foto: Divulgação/C.D. Palestino

Moris diz que nunca visitou a Palestina, já que o acesso é dificultado pelo governo israelense. Ele também comenta que tem parentes na região e mantém contato com comunidades locais por intermédio do próprio Palestino. 


Assim como Rabi, Emilio Mauricio Bakhit de Ruyt é torcedor fanático e descendente de palestinos do bairro de Ein Karem, em Jerusalém. Por ter parentes que moram na Faixa de Gaza, no Oriente Médio, diz: “Apoio ao nosso povo, lamento o genocídio e quero que a Palestina seja livre”. 


Emilio, advogado de 51 anos, defende o direito de manifestação pela causa palestina. Assim como Moris, diz que o clube, jogadores e torcida têm posições firmes e positivas nessa questão.  


Emilio e sua filha no Estádio Municipal La Cisterna, casa do Palestino, com símbolos da Palestina - Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Apesar de ambos defenderem o direito a um Estado para os palestinos, Moris e Emilio têm visões diferentes sobre uma possível paz na região. O primeiro acha que é praticamente impossível a possibilidade da existência de um estado árabe e um judeu convivendo. Por outro lado, Emilio acredita que nunca se deve perder a esperança. 


Moris, Emilio e o próprio clube têm definições semelhantes sobre o Palestino. Moris afirma que significa uma forma de luta pela liberdade da Palestina, por sua vez, Emilio entende que o “Tino" não é só uma equipe, mas sim todo um povo, em que a cada 90 minutos de um jogo representa a própria existência da região do Oriente Médio. Por último, a visão do clube é de orgulho em defender uma causa social e humanitária tão importante. 


O clube conta com poucas conquistas esportivas. São dois títulos do Campeonato Chileno, atrás de outros 11 times no país, e cinco vezes campeão da Copa do Chile, sendo o quinto maior vencedor. Ainda assim, torcida e diretoria se mostram contentes com toda a exposição que o time tem através do seu engajamento social. 


1 Comment


bm2ferreira
May 28

Muito interessante a reportagem Não tinha a mínima ideia de que o Chile tem o maior número de palestinos fora do país e que o time abraça uma causa muito importante.

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