Projeto da Uerj integra pets como auxiliares em terapias variadas, que acolhem de pacientes com autismo a vítimas de violência
Fantasiados de Mulher Maravilha e de Batman, dois cães fizeram sucesso pelos corredores do setor de pediatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) no sábado, 12 de outubro. Pipa e Jorge, uma golden retriever e um border collie, são personagens fundamentais no TEAcolhe Uerj, projeto que utiliza animais em terapias com pessoas do espectro autista ou outras condições que pedem cuidados especiais – como idosos e vítimas de violência. Os dois cachorros acompanharam a comemoração do dia das crianças nas enfermarias da pediatria e do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (NESA) do hospital. Na ação, os voluntários foram divididos em dois grupos: um foi ao segundo andar, com Pipa, para visitar as crianças menores, e outro, com Jorge, seguiu para o terceiro andar, onde ficam os adolescentes.
Alguns pacientes inicialmente demonstraram timidez com a chegada dos animais, mas logo se sentiram à vontade, interagindo com abraços, carinhos e até posando para fotos ao lado deles. As tutoras de Pipa e de Jorge conduziram com cuidado os passos dos cachorros, que já são treinados e capacitados para realizar o Tratamento Assistido por Animais (TAA).
O TEAcolhe Uerj é um projeto da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Iniciado em março de 2018, sob o nome ‘Zooterapia Uerj’, o programa foi implementado na Policlínica Piquet Carneiro (PPC). Começou focado no atendimento de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas se expandiu para o cuidado com portadores de outras síndromes. As atividades foram ampliadas com iniciativas de ensino, de pesquisa e de suporte emocional, além de visitas a ambientes ambulatoriais e hospitalares.
O objetivo é proporcionar aos pacientes os benefícios da coterapia animal, entre eles relaxamento, a redução da ansiedade, o desenvolvimento motor e cognitivo. Os animais também ajudam a melhorar o relacionamento entre os pacientes, os familiares e a equipe multidisciplinar. O programa conta com a participação de animais de diferentes espécies, como cachorro, gato, coelho, calopsita, coruja, furão e, até mesmo, jiboia. No entanto, na ação especial de dia das crianças só estavam Pipa e Jorge.
A tutora de Jorge, Carmem Moulin, conta que o animal de 4 anos desde filhotinho apresentava as características de um cão terapeuta. “Sempre quis que ele participasse porque ele é muito carinhoso, mas não tinha tempo por estar sempre trabalhando, então o projeto no hospital que faço residência foi ótimo”, afirmou. Ela descreve uma experiência marcante, quando um menino chamado Levy, que estava intubado na UTI, viu Jorge e ficou apontando em direção ao cão. Quando Jorge se aproximou, Levy ficou calmo e fez carinho na patinha do animal. Já a tutora de Pipa, Daniela Canto, diz que a cadela tem um ano e meio e que desde os 5 meses de vida é treinada.
A inclusão de animais como suporte terapêutico tem sido cada vez mais usada, e os estudos mostram benefícios para os pacientes. Alexandre Bello, professor da Faculdade de Medicina e coordenador do TEAcolhe Uerj, afirmou que, com todos os cuidados necessários, o tratamento assistido por animais é um método de tratamento benéfico e eficaz. Bello acompanha todas as ações, orientando os voluntários sobre cuidados com os pacientes e com os animais, a fim de seguir os protocolos de segurança. Ele afirma que existe uma preocupação com o bem-estar tanto dos pacientes, quanto dos animais, para não sobrecarregar física e emocionalmente nenhum dos dois lados.
Segundo Daniela Liguori, adestradora de cães e voluntária, participar do projeto é uma experiência transformadora. “Ver de perto o impacto que esses animais têm na vida das pessoas é algo difícil de descrever. Cada visita é um momento de conexão profunda, onde os cães levam amor, conforto e alegria para quem mais precisa. E ajudar a preparar os cães para cumprirem essa missão tão especial é extremamente gratificante”, diz. Ela acrescentou que os animais têm o poder de curar e que isso vai além do trabalho. “É uma troca em que todos saem transformados”, afirma.
Pipa e Jorge levaram alegria, brincadeira e vitalidade para o dia das crianças de todos os pacientes presentes e da equipe multiprofissional do HUPE. Ao final da visitação nos leitos, todos se encaminharam para o segundo andar para participarem de uma comemoração com direito a bolo, parabéns e lembrancinhas. O que poderia ser um dia triste e monótono dentro do hospital se transformou em um momento mais leve e especial para todos.
A ação de sábado ocorreu em caráter excepcional, já que as atividades regulares do TEAcolhe Uerj estão suspensas no HUPE. Um vídeo de uma cadela lambendo uma paciente viralizou nas redes e gerou uma discussão sobre a presença dos animais no ambiente hospitalar. De acordo com Alexandre Bello, coordenador do TEAcolhe Uerj, os cães passam por higienização bucal constante e o Tratamento Assistido por Animais (TAA) é uma prática segura e comum adotada por outros hospitais, como o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
O projeto foi interrompido para uma revisão dos protocolos de segurança. Houve então a liberação dessa ação especial de dia das crianças, com aval da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e do Núcleo de Segurança do Paciente. Foi decidido que, com a assinatura de autorização de pacientes e responsáveis, a visitação poderia acontecer. O projeto ainda aguarda o aceite final dos protocolos de segurança pela Pró-Reitoria de Saúde (PR-5), a CCIH, o Núcleo de Segurança do Paciente e a direção geral do HUPE. Para Bello, a ação de sábado foi um termômetro, demonstrando o quanto a equipe está preparada para esta e demais ações onde quer que aconteçam.
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Redes Sociais: @teacolheuerj, @jorge.collie, @pipa_bibi
Amei o projeto e a reportagem! Parabéns!