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Foto do escritorJoyce Rocha

Uma exposição para ver sem os olhos

Atualizado: 13 de abr.

Em cartaz no Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro, “Diálogo no Escuro” permite experiência multissensorial sensível e inesquecível


Entrada da exposição “Diálogo no Escuro” no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Reprodução: Joyce Rocha.

Já parou para pensar como seria sua vida sem a sua visão? Na exposição “Diálogo no Escuro”, em exibição no Museu Histórico Nacional até o dia 30 de julho, você é convidado a andar por ambientes que simulam lugares do Rio de Janeiro, com um diferencial: você vai estar no completo escuro.


Antes de entrar, cada visitante recebe uma bengala de suporte e uma chave para guardar seus pertences em um armário. Assim que atravessa a porta para a primeira sala, um guia se apresenta para ajudar durante todo o percurso, instruindo por onde andar. O guia também faz perguntas para ajudar na identificação de alguns objetos. Detalhe: ele é uma pessoa com deficiência visual - assim como seis milhões de brasileiros.


Uma frase no início da exposição lembra: “é preciso encontrar novas formas de ‘ver’ as realidades”. E essa proposta é concretizada ao longo do percurso, convidando o visitante a ver de outras formas e a pensar em questões relacionadas à acessibilidade. “Diálogo no Escuro” se torna um convite para você viver outra realidade, mesmo que por apenas 45 minutos.


A exposição é gratuita e funciona quinta e sexta de 10h às 17h e, nos finais de semana de 13h às 17h. Crianças a partir de 8 anos podem participar se estiverem acompanhadas de um responsável. Os ingressos para visitar "Diálogo no Escuro" são limitados, e você pode adquirir o seu no local, por ordem de chegada. São permitidas apenas oito pessoas por vez, a fim de garantir uma experiência agradável para todos e para que cada um consiga ouvir o guia.


Enquanto recebia as instruções, Laura Rafaela, 24, formada em Relações Públicas, disse que sentiu um misto de ansiedade e nervosismo por não saber como seria durante o trajeto. Mesmo que lá dentro os visitantes estivessem sendo guiados o tempo todo, a sensação de não enxergar nada pode ser diferente para cada um. Laura começou como a terceira da fila e no final era a última, porque, segundo ela, sentiu medo o tempo todo. Esse medo era por não ter controle do que estava acontecendo, já que cresceu com a visão e se direciona por ela.


A estudante de jornalismo da Uerj Giulia Rodrigues, 22, disse que, depois da primeira sala, conseguiu se acalmar um pouco. Porém, logo após se tranquilizar, outro sentimento veio à tona: não saber onde as pessoas estavam por meio da audição. “Parece que, ao mesmo tempo que tentei aguçar a minha audição para saber onde as pessoas estavam mais eu percebia que perdia a noção da voz delas”.


Nos minutos iniciais pode ser difícil se guiar só pela voz ou pelo tato, mas no decorrer do caminho, com bastante calma, o guia instrui o visitante para que a pessoa se sinta mais relaxada. Além disso, eles se mantêm preparados para possíveis desistências devido ao grande impacto da imersão.


Luciane Pereira, 49, é uma das cinco guias preparadas para atender o público. “Ser guia da exposição tem sido uma experiência muito emocionante, já que no meu dia a dia, geralmente, eu sou guiada pelas pessoas. Na exposição eu tenho a oportunidade de viver o inverso”, disse Luciane. Esse é outro ponto importante que “Diálogo no Escuro” permite: gerar empregos para pessoas com deficiência.



Dados de quantas pessoas vivem com deficiência visual no mundo e no Brasil. / (Reprodução: Joyce Rocha)

Após passar pela experiência, Giulia refletiu sobre a realidade da deficiência visual, que pode chegar a qualquer momento para qualquer pessoa. Já Laura disse que vivenciar isso fez com que ela percebesse que as pessoas com deficiência visual são incríveis, não só pela capacidade de se adaptarem, mas também por não desistirem. “Viver sem enxergar em um mundo que não é adaptado para pessoas com essa deficiência é, na verdade, sobreviver. Não pude deixar de pensar em como é absurdo o cenário brasileiro em termos de políticas públicas e ações efetivas para tornar todos os espaços acessíveis”, afirmou ela.


A exposição Diálogo no Escuro também está em cartaz na Unibes Cultural, em São Paulo. Vendidos pelo Sympla, os ingressos variam de R$10 a R$40. Às quintas-feiras a entrada é gratuita.



Informações da exposição Diálogo no Escuro

Rio de Janeiro (gratuito): disponível até 30/07

Museu Histórico Nacional: Praça Mal. Âncora - Centro

Quinta a sexta-feira das 10h às 17h (16h última sessão)

Sábado e domingo das 13h às 17h (16h última seção) Para mais informações: rio@dialogonorescuro.com.br


São Paulo: disponível até dezembro

Unibes Cultural: Rua Oscar Freire, 2.500 - Sumaré (ao lado do metrô Sumaré)

Quinta a domingo das 12h às 18h40 Quinta-feira: Gratuito Sexta-feira: R$20 - R$10 Sábado, domingo e feriados: R$40 - R$20

Ingressos aqui.



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